O
resultado das eleições municipais de 2012 já está calibrando os partidos
políticos para a disputa pelo Palácio Piratini em 2014. Pelo menos três siglas
devem ter candidaturas próprias: PT, PP e PMDB. Há, ainda, um forte apelo de
setores do PDT pelo “protagonismo” na eleição de 2014. Com o aumento de 65 para
70 prefeituras e a vitória em primeiro turno nas duas maiores cidades gaúchas –
Porto Alegre e Caxias do Sul –, os pedetistas já começam a sonhar com voos maiores.
Em
um cenário complexo, que envolve também uma vaga majoritária na disputa pelo
Senado, os partidos que não lançarão candidaturas próprias ao governo estadual
também se movimentam na busca de espaço em futuras coligações. Até
o momento, uma das peças centrais na disputa é o governador Tarso Genro (PT),
que deve concorrer à reeleição. O petista precisa amarrar bem a sua ampla
coalizão (PT, PSB, PCdoB, PR, PTB, PDT, PRB, PV) para evitar a debandada de
aliados para outras candidaturas.
Com
a aproximação entre a deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB) e a senadora Ana
Amélia Lemos (PP) – virtual candidata ao governo gaúcho em 2014 –, não está
descartada a possibilidade de os comunistas embarcarem no palanque progressista
e ainda levarem junto o PSB, aliado de primeira hora do PCdoB no Rio Grande do
Sul. E, caso o PDT lance candidatura própria, é bem possível que carregue junto
o PTB, parceiro fiel do partido em Porto Alegre.
Tarso
pretende fortalecer aliados para disputar a reeleição
Atento
às movimentações, o governador deve promover algumas mudanças em seu
secretariado para ampliar o espaço dos aliados no primeiro escalão. Na próxima
semana, Tarso se reunirá com o PT, na segunda-feira (22), e com o PDT, na
terça-feira (23), para azeitar a distribuição de cargos.
Ele
terá que cortar espaços do próprio partido para contemplar os desejos de
aliados como o PDT. Uma das secretarias que pode passar para as mãos dos
pedetistas é a de Justiça e Direitos Humanos, hoje sob o comando do petista
Fabiano Pereira.
Outra
estratégia será fornecer a vaga da coligação ao Senado para o PSB, que deve
lançar o nome do secretário de Infraestrutura Beto Albuquerque.
PDT
dividido entre três caminhos
Os
dirigentes do PDT gaúcho não cabem em si de tanta euforia. O partido conquistou,
no primeiro turno, os dois maiores municípios do estado: Porto Alegre, com a
reeleição de José Fortunati, e Caxias do Sul, com o deputado estadual Alceu
Barbosa Velho. Além disso, os pedetistas terão o comando de 70 prefeituras a
partir de janeiro de 2013, contra as 65 conquistadas em 2008.
Essas
duas principais vitórias têm um ponto em comum: ambas se deram em uma sólida
parceria com o PMDB. No caso de Caxias do Sul, o atual prefeito José Ivo
Sartori (PMDB) não poderia mais concorrer à reeleição e resolveu honrar um
acordo estabelecido com o PDT. Por isso, patrocinou a candidatura de Alceu
Barbosa, com um vice peemedebista.
Bolzan
avisa que PDT poderá embarcar em candidatura do PMDB
Em
Porto Alegre, José Fortunati havia assumido a titularidade do Paço Municipal
após José Fogaça (PMDB) deixar a prefeitura em março de 2010 para concorrer ao
governo do estado. Nesse caso, também havia um acordo estabelecendo que o PDT
concorreria em 2012 e os peemedebistas indicariam o vice na chapa majoritária.
Essa
aliança fundamental nas duas maiores cidades gaúchas pode ser o fio condutor
para uma parceria entre PMDB e PDT na disputa pelo Palácio Piratini em 2014.
Resta saber quem teria a cabeça de chapa. E também seria preciso superar os
traumas que essa mesma aliança gerou em 2010, quando José Fogaça concorreu ao
lado do pedetista Pompeo de Mattos como vice.
Na
época, o PDT se dividiu, já que Fogaça e o PMDB se recusaram a fazer campanha
para a presidente Dilma Rousseff (PT) no estado. Por isso, parte do partido foi
para o palanque de Tarso – inclusive o ex-governador Alceu Collares. Além
disso, Pompeo, que havia abdicado de concorrer à reeleição na Câmara dos
Deputados, chegou a dizer que Fogaça era um “cavalo cansado”.
Sem
emprego, o ex-deputado teve que deixar de receber seu salário de parlamentar e
voltar para o cargo de concursado do Banco do Brasil, recebendo pouco mais de
R$ 3 mil. Posteriormente, Fortunati criou uma Secretaria Municipal do Trabalho,
onde abrigou o companheiro de partido.
Para
o horizonte de 2014, o PDT está diante de três escolhas: lançar candidatura
própria, continuar aliado ao governo petista ou embarcar no palanque do PMDB.
“Organizaremos um debate geral no partido para avaliar esses três cenários”,
avisa o presidente estadual dos pedetistas e prefeito de Osório, Romildo Bolzan
Júnior.
Vieira
da Cunha defende candidatura própria ao Palácio Piratini
Ele
reconhece que a parceria com o PMDB é forte no Rio Grande do Sul. “Não resta
dúvida de que as vitórias que obtivemos em Porto Alegre e em Caxias decorrem de
uma aliança com o PMDB. Esse é um cenário que teremos que analisar, poderemos
estar em um outro campo em 2014”,
pondera.
O
presidente do PDT de Porto Alegre, deputado federal Vieira da Cunha, é
abertamente favorável à candidatura própria. “É uma tese sempre presente. Foi o
que defendi em 2010 e continuo convicto de que esse é o melhor caminho para o
partido”, opina.
PMDB
dividido entre nomes
Já
é praticamente um consenso entre os dirigentes peemedebistas que o partido irá
lançar candidatura própria ao Palácio Piratini em 2014. Internamente, o PMDB
avalia que essa é a única saída possível para a sigla recuperar a auto-estima
perdida com a derrota sofrida em 2010, quando José Fogaça perdeu no primeiro
turno e o ex-governador Germano Rigotto não conseguiu se eleger ao Senado.
O
problema do PMDB é outro. Quem será o candidato? As lideranças do partido citam
pelo menos cinco possíveis nomes: o prefeito de Caxias do Sul, José Ivo
Sartori, o ex-governador Germano Rigotto, o ex-prefeito de Porto Alegre José
Fogaça, o ministro da Agricultura Mendes Ribeiro Filho e o deputado federal
Eliseu Padilha.
Desses
cinco, o prefeito de Caxias pode ser considerado o rosto novo em disputa. Com
um governo extremamente bem avaliado e com a vitória de seu sucessor, ele se
credenciou para disputar o cargo. Com a visibilidade que obtém no ministério,
Mendes Ribeiro também é uma alternativa. E Eliseu Padilha – amigo pessoal do
vice-presidente da República Michel Temer (PMDB) – poderia almejar o posto
devido à influência que possui nos diretórios estadual e nacional do partido.
O
sonho de alguns peemedebistas é ter o PDT como aliado novamente e entregar a
vaga de vice ao partido. “O PMDB deu as duas maiores cidades gaúchas ao PDT. É
uma questão de reciprocidade. Se o PDT entender que deve concorrer ao governo
do estado, que concorra ajudando o candidato do PMDB. Se quiser lançar
candidatura própria, tudo bem, aí desfazemos as parcerias em Porto Alegre e em Caxias do Sul”, avisa
o deputado federal Osmar Terra. Ele era a principal liderança que defendia
candidatura própria do PMDB à prefeitura da Capital.
Conhecido
por ser um bom frasista, o presidente do PMDB gaúcho, Ibsen Pinheiro, afirma
que “com a força estadual do partido, concorrer ao governo do estado deixou de
ser uma obrigação história e se tornou uma verdade aritmética”. Ele assegura
que a candidatura própria ao Palácio Piratini é “um sentimento unânime de alto
a baixo no partido”.
Ibsen
Pinheiro acredita que os mesmos nomes cotados para o governo estadual também
estão cotados para disputar a cadeira no Senado. Além disso, ele próprio se
credencia para a vaga. “Apresentarei o meu nome na convenção”, avisa.
Ana
Amélia: enfraquecida ou fortalecida após as eleições municipais?
Grande
aposta do PP para que o partido volte a ter uma candidatura competitiva ao
Palácio Piratini, a senadora Ana Amélia Lemos – eleita com mais de 3 milhões de
votos – amargou vitórias e derrotas nas eleições municipais deste ano. Ela
percorreu centenas de municípios emprestando seu apoio no interior do estado e
conseguiu fazer com que o PP se mantivesse como o maior partido em número de
prefeituras gaúchas. Embora tenha registrado uma queda de 146 para 136
municípios, o partido segue na liderança. Além disso, a atuação da senadora
atraiu milhares de novos filiados à sigla.
Entretanto,
Ana Amélia sofreu uma profunda derrota em Porto Alegre, onde sua candidata,
Manuela D’Ávila, perdeu no primeiro turno. À revelia de parte do PP municipal,
a senadora defendeu o apoio à comunista e acabou sendo derrotada na convenção
partidária em uma votação apertada.
A
ala do PP que optou pela aliança com o prefeito José Fortunati se dividia em
dois espectros: aqueles que tinham cargos na administração municipal e aqueles
que resistiam a uma parceria com o PCdoB por questões programáticas e
ideológicas.
Ainda
assim, à revelia da decisão partidária, Ana Amélia resolveu apoiar Manuela e se
afastou da direção do diretório metropolitano. Mesmo com o apoio da senadora, a
comunista não conseguiu vencer a eleição e há quem diga que essa derrota
enfraquece também o poder de liderança de Ana Amélia.
Dentro
do PP, a ordem é colocar panos quentes na polêmica em Porto Alegre e apostar
todas as fichas na eleição da senadora ao governo estadual. “Teremos candidato
ou candidata ao governo gaúcho. Termina uma eleição e começa outra. Iremos
preparar uma alternativa pela oposição”, assegura o presidente do PP no Rio
Grande do Sul, Celso Bernardi.
Ele
minimiza o impacto da derrota de Manuela na Capital sobre as pretensões
eleitorais de Ana Amélia. “Não vejo nenhuma relação da eleição de Porto Alegre
com a participação da senadora no projeto que temos de ter uma candidatura ao
governo do estado”, entende.
*Analise Sul21